As mulheres negras representam 62% das mães solo no país, segundo levantamento do Ministério da Saúde, e enfrentam os maiores índices de pobreza e desemprego. A desigualdade também aparece no acesso aos serviços de saúde: apenas 27% delas têm acompanhamento durante o parto.
A psicóloga perinatal e especialista em desenvolvimento infantil, Mayumi Souza, diz que dados recentes mostram como a relação entre raça, gênero e classe aprofunda a sobrecarga das mulheres afrodescendentes e limita o acesso a serviços essenciais.
"As mulheres negras, elas estão cansadas porque, na maioria das vezes, elas estão sustentando sozinha a maior carga, né, de trabalho, de carga de cuidado e violência. E assim, nas pesquisas, o que é mostrado é que assim, o racismo gera um estresse crônico que gera processos de inflamação, risco aumentado de doenças como, por exemplo, até diabetes, pressão alta, risco aumentado para depressão, ansiedade, parto prematuro", diz.
60% da mortalidade materna no Brasil atinge mulheres negras. Para a psicóloga, estes números demonstram a violência e o racismo obstétrico.
"As mulheres negras, elas são julgadas, elas são menos acreditadas na dor, então quando uma mulher chega passando por um processo de dor, é oferecido menos analgesia, por exemplo, para ela. Existe a violência obstétrica e, dentro da violência obstétrica, existe a configuração do racismo obstétrico", afirma.
A especialista ressalta que um cuidado ético e politicamente implicado deve reconhecer a raça como determinante na experiência da maternidade.
"Muitas vezes eu já ouvi de pessoas negras que elas não queriam ser mães porque elas não queriam viver a experiência de ver os seus filhos sendo violentados. E aí o meu trabalho é centrado no bem viver. Ele é centrado em ajudar essas pessoas a viverem da forma como elas merecem", aponta.
Fonte: Radioagência Nacional